quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O SONO ME PEGOU DE NOVO

  
Era domingo, 06 de agosto de 2006, o relógio marcava 09h quando todo mundo já havia acordado e um barulho intenso me fez levantar da cama apavorada com os cabelos em pé. Olhei ao redor do quarto e a cama da minha irmã já estava arrumada.
De repente pulei da cama e entrei no banheiro para usar a privada. Gaby, minha irmã, me gritava da escada, então ajeitei o cabelo para descer. Ela dizia frequentemente:
― Fica aí Dany com tua lerdeza que a gente já vai.
Lembrei-me do passeio ao clube AABB, sair do banheiro correndo, entrei no quarto e peguei minha sacola que já estava arrumada desde a noite anterior. Desci as escadas e peguei uma maçã na geladeira, já que não dava mais tempo para tomar café. Tive que sair rápido.
Ao sair, olhei o céu e percebi que estava lindo, bem azul com nuvens brancas e o sol radiante. Todos já me esperavam no carro. Gaby disse que tentou me acordar desde as 07h. Eu expliquei que meu celular não despertou porque havia desligado devido ao descarrego da bateria.
Papai já estava irritado comigo, ele não gosta de esperar. Outro dia chamou mamãe de aranha porque ela demorou de colocar o almoço, então saiu para comer uma quentinha na rua. Minha irmã colocou o fone do celular MP3 no ouvido para na escutar o sermão de papai pra cima de mim. Mamãe já estava acostumada com o velho, mas a bronca era minha. Morávamos na Boa Vista, uma região da zona rural de Santo Antonio de Jesus. Papai acordou cedo para abastecer o carro.  Ir ao AABB é uma ocasião especial para a nossa família, uma vez que não vamos lá todos os domingos.
Na verdade papai havia marcado um jogo com os amigos de trabalho e não gostava de se atrasar. Mamãe só fazia o que papai gostava. Ela ficava lá sentada na mesa com as mulheres dos colegas de papai, todas falando da novela das 09hs e conversando sobre pratos de comida, uma vez que ela não sabia cozinhar. O que mamãe sabia fazer mesmo era trabalhar de recepcionista naquela clínica laboratorial. Lá em casa, a empregada tinha que deixar o almoço do fim de semana pronto, apenas para ser esquentado no microondas. Eu sei que o maior sonho de mamãe era saber cozinhar para fazer comidas saborosas que agradasse papai, mas isso nunca aconteceu em 15 anos de casamento.
Verifiquei meu cinto de segurança e acabei pegando no sono. Tirei uma soneca. Seguimos a estrada com o som do carro ligado, cantando uma música chata de Silvano Sales. Papai dirigia a 80 km, mas tinha algo estranho no meio do caminho que o fez parar o carro de repente. Todos nós fomos arremeçados para frente do pára brisa, eu acordei na hora. Gaby bateu a cara na parte de trás do banco onde mamãe estava sentada porque estava sem o cinto de segurança. Ninguém sabia o que havia acontecido com papai e o carro.
Papai desceu do carro e descemos todas também. Gaby ficou machucada, num alvoroço que só e, mamãe foi passar pomada em seu ferimento. Quando cheguei com papai na frente do carro não dava pra acreditar. Papai acabara de assassinar um preá. Passou por cima dele, ficou estraçalhada, era fêmea, com as tripas saindo da barriga e os olhos esbugalhados para fora. Fiquei com pena do animal, mas papai matou-a sem querer. Foi horrível o acontecimento e papai ficou com remoço. Entramos novamente no carro e seguimos a estrada.
Finalmente conseguimos chegar ao AABB. O sol estava escaldante e havia muitos carros por perto. Quando entramos foi surpreendente. O AABB estava cheio de gente, e de gatinhos também, do jeito que eu gosto. Papai e mamãe foram ao encontro dos amigos e eu me aproximei da piscina. Fui arrumando minhas coisas e me instalando por ali mesmo, admirando os gatinhos e de minuto em minuto eu passava os olhos em Gaby.
Gaby brincava com as amigas pré-adolescentes filhas dos amigos de papai e todas chatas. Resolvi cair na piscina, pois o sol estava muito quente. Não imaginava o que me esperava por lá. Ao me levantar do mergulho me deparei com um rapaz que levantava simultaneamente comigo. Fiquei cega por ele que seguia os meus olhos com os seus olhos. Ficamos nos olhando cara a cara.
Sem graça, sem cor e sem sentir meus pés, resolvi sair da piscina. Ele veio me seguindo me perguntando o meu nome, eu respondi:
― Dany. Ele falou:
― O meu é Diego.
― Você mora aqui? Perguntou o Diego.
Eu respondi: ― Sim! Na Boa Vista.
― E você onde mora? Eu perguntei pra ele.
― Moro neste mesmo bairro, ao lado do clube.
Ficamos conversando a beira da piscina. Eu me secava com a toalha quando ele se ofereceu para me passar protetor solar e eu aceitei. Ele se sentou ao meu lado e falamos sobre vários assuntos. Nesse meio tempo a fome bateu e Diego me ofereceu um sorvete. Lógico que eu aceitei. Eu nem tava com tanta fome assim, mas estava achando ele lindo. Acabamos descobrindo que gostamos de coisas iguais ou parecidas. Conversamos tanto que o tempo passou e nem nos demos conta.
O AABB foi ficando vazio, o sol ficava frio e o dia começava a escurecer. Meus pais me chamaram para ir embora quando Diego me pediu meu telefone. Eu dei meu celular para ele e voltei para casa com a minha família.
Na volta pra casa papai e mamãe colocavam os papos em dias comentando os eventos ocorridos no clube. Eu nem estava prestando atenção no que eles falavam. Meus pensamentos só tinham um nome: Diego. Quando chegamos em casa, fui direto pro meu quarto colocar o celular pra carregar e tomar um banho daqueles.
Mamãe gritou:
― O jantar está na mesa!
Sentei-me à mesa, com o pensamento nas nuvens, fiz meu prato e comecei a comer. Terminei de comer e dei um beijo de boa noite em papai, outro em mamãe e outro em Gaby. Todos estranharam a minha atitude.
Fui dormir mais cedo, acho que o relógio marcava 19h. Peguei meu celular, tirei do carregador e coloquei ao lado do travesseiro. Eu olhava a lua da janela e só pensava em Diego. Olhava pra parede do meu quarto e só pensava em Diego. Em tudo que eu olhava só enxergava Diego.
Cansei-me de esperar o celular tocar que peguei no sono e dormir profundamente. Sonhei que meu celular estava tocando com o Diego ligando pra mim. Em poucos instantes parecia que o celular estava tocando de verdade. Acordei com o toque do celular em meus ouvidos. Quando atendi, disse:
― Alô!
Escutei o Diego falando:
― Alô! Boa noite!
Eu fiquei assustada com o coração batendo forte, quase saindo pela boca e respondi:
― Boa noite!
Em seguida, Diego falou:
― Só liguei pra ouvir tua voz e te dar boa noite! Estou com saudades! Amanhã nos falamos novamente?
― Sim, Claro!
Depois desse telefonema fiquei um bom tempo acordada pensando em Diego, meu coração batia forte no peito. Fui dormir como nunca tinha dormido antes em minha vida. Eu estava apaixonada, foi amor a primeira vista. Dessa forma caiu a ficha e eu percebi o que estava acontecendo comigo de verdade. Eu estava apaixonada. 
Caramba! Paixão parecia ser uma coisa boa, só que deixava a gente boba, parecendo criança quando ganhava um brinquedo novo.  Aquela noite foi a noite mais importante da minha vida, pois eu nunca tinha ido dormir daquele jeito. Ah!! Eu estava tão feliz e apaixonada que apaguei e nem vi. O sono me pegou de novo!

Por: Jaqueline dos Santos Ribeiro Amorim

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