Em 1910 foi publicado
pela primeira vez o livro “Le Fantôme de l'Opéra” (O Fantasma da Ópera) escrito pelo francês
Gaston Leroux. Ele escreveu inúmeros livros, mas essa obra prima foi a que o tornou
imortal. Essa novela francesa, inspirada da novela Trilby de George du
Maurier, foi adaptada várias vezes para o cinema e teatro ao ponto de ser
adaptada para o Teatro da Broadway,
no qual é apresentado desde 1986. O livro foi
traduzido para o português brasileiro inúmeras vezes e é considerado uma obra
gótica, pois combina romance, horror, ficção, mistério e tragédia.
A história do livro “O
fantasma da Ópera” (OFO) narra o triângulo amoroso entre um misterioso fantasma,
grande cantor de ópera e compositor, que faz de tudo para cuidar excessivamente
de sua aluna de canto e amada, Cristine Daaé. No decorrer do drama Daaé se
apaixona por Raoul, um amigo de infância, que luta para ficarem juntos. Daaé,
por sua vez, sempre ouviu o pai dizer que quando morresse iria mandar o “Anjo
da música” para protegê-la. Daaé ficou órfã. Pouco tempo depois lhe apareceu
uma voz masculina, ela logo imaginou que era o anjo da música e durante muito
tempo apenas ouvia a voz desse anjo. Mas será que realmente foi um fantasma, ou
é apenas uma história imaginária?
O fantasma morava no
subterrâneo da Academia e era muito exigente, todo mês queria seu pagamento de
20 mil francos. Ele não aceitava negligências e queria que o camarote de número
5 nunca fosse ocupado, pois era dele. E, com todos os boatos sobre a existência
do fantasma, os diretores (Moncharmin e Richard) não cumpriam as exigências que
lhes eram feitas por acharem que alguém queria tirar proveito deles. E por eles
descumprirem com os pedidos do fantasma, inúmeros fatos temerosos aconteceram no
teatro.
Segundo Gaston Leroux, essa
história é real e, no decorrer, ele mostra que conseguiu provas da suposta
existência de tal criatura, se desprendendo da descrição detalhada do tempo,
físico dos personagens, dentre outros fatores, que julgo desnecessário mediante
essa magnífica narrativa, e se firma em detalhar a ação. E nesse clima de
mistério, Leurox aponta e desvenda desde os fatos simples até os mais
extraordinários e ainda faz refletir se o fantasma é merecedor do ódio do
leitor ou do amor que o transforma em uma pessoa agradável.
Mesmo não tendo a
presença da ópera musicalizada no livro, o leitor se sente agraciado e
emocionado com a forma que as palavras são apresentadas e colocadas no texto. A
literatura abre espaço para que o leitor imagine, crie e sinta todo o cenário
que é apresentado no decorrer da história.
Trazendo teorias para
este texto, os signos tratados são literatura e cinema, isso implica a
semiótica, a
qual não se adere apenas ao campo verbal, mas também ao não-verbal, e as
múltiplas linguagens, o diálogo entre literatura e outras artes, neste caso, o
cinema. Pode-se trabalhar, além disso, com a comparação entre dois textos
diferentes, intertextualidade, multimodalidade
e intermedialidade.
Os
termos multimodalidade e intermedialidade (ou discurso interarte) (...) estão
relacionados, basicamente, aos vários modos possíveis semioticamente para
produções textuais que ultrapassam os limites do verbal para atingirem outros
sistemas semióticos/linguagens. (MARINS, p. 1).
A intertextualidade se
mostra presente no livro quando são citados nomes como “Romeu e Julieta”, de
Shakespeare, “Don Juan”, “Vênus de Milo” e “Apolo”. Sabe-se que para uma
adaptação o autor não precisa ser “fiel” ao texto de partida. A transformação
do clássico OFO em filme, teatro e música, exemplifica a ligação entre vários
sistemas de signos diferentes, nos quais cada autor que criou a nova obra não
seguem os fatores idênticos da obra de partida. É preciso conhecer, então, os
textos que fazem parte desse diálogo intermidiático. Vale ressaltar que as
adaptações de “O Fantasma da Ópera” não seguem a mesma personalidade do
fantasma.
O filme “The Phantom of
the Opera” (O fantasma da ópera) foi dirigido por Joeal Schumacher, com roteiro
de Andrew Lloyd Wbbere. A história começa em um leilão no teatro chamado “Opera
Populaire”, em 1919. Entre os objetos leiloados encontram-se dois objetos da
época do fantasma da ópera e a partir daí a história volta para 1870, nos
bastidores do teatro, quando os componentes da apresentação estão ensaiando
para mais uma atração.
Os novos diretores não
obedecem aos comandos do fantasma da ópera (Gerard Butler), o qual se ira e encontra refúgio no amor que sente pela bela
Christine Daaé (Emmy Rossum). Ele faz de
tudo para defender a sua amada até descobrir que ela ama outro rapaz, o conde Raoul.
O fantasma se ira contra Raoul, faz de tudo para separá-los, exigindo o amor da
bela mulher e ameaçando-a para que ela aceitasse seu pedido de casamento.
O emocionante final do
livro narra que Erik se comove ao perceber que Daaé só aceita se casar com ele
para proteger Raoul, quem ela ama. Esse final é
contado pelo próprio Erik, o qual vai até a casa do Persa – antigo funcionário
do teatro – para dizer que iria morrer por não ter o amor da bela moça. Nesse
dia ele conta que o olhar sincero de Daaé foi o estopim para amolecer o seu
coração, e então, ele permitiu que ela fosse embora com Raoul, mas antes pediu
para que ela voltasse para sepultá-lo com o anel que a entregou em pedido de
casamento. Ela aceitou a proposta e saiu com seu amado.
A visita de Erik na
casa do Persa tinha o objetivo de que este divulgasse no jornal da época seu
falecimento para Christine Daaé saber quando iria procurá-lo. A narrativa do
livro encerra assim: “E depois a caleça
mergulhou na noite. O Persa tinha visto, pela última vez, o pobre infeliz Erik.
/ Três semanas mais tarde, o jornal L’Époque
publicava este anúncio necrológico: MORREU ERIK”. (LEROUX, 1998, p. 307).
Como adaptação é uma
recriação que se desapega da obra de partida e que leva traços de
intertextualidade, o final do filme é um dos pontos que afirma a diferença
entre as versões. Na apresentação da obra Don Juan Triunfante, escrita e
apresentada pelo fantasma da ópera, Christine o humilha ao retirar a sua máscara
para que o público visse o seu rosto desfigurado. Após isso, o fantasma
indignado a leva para o subterrâneo do teatro, onde a narrativa se desenrola.
Raoul sai a procura de
Daaé e do fantasma, quando acha-os começa uma discussão musicada em ópera.
Então o fantasma manda a sua amada dizer se iria se casar com ele ou não. A
resposta negativa o faria ceifar a vida de Raoul. Christine diz ao fantasma: “-
Pobre criatura da escuridão que tipo de vida você conhece? Deus me deu coragem
de lhe mostrar que não está sozinho” e o beija. Este ato o comove ao ponto dele
permitir a fuga dos jovens. Christine devolve o anel para ele e sai com Raoul.
Erik quebra os espelhos do quarto, mostrando-se embravecido, e foge.
A imagem final descreve
o que pode ter acontecido com esse triângulo amoroso. Raoul, já idoso, vai até
um cemitério e as cenas mostradas, sem falas, faz o espectador perceber que
Christine faleceu em 1917 e que o fantasma da ópera continuava vivo, pois
mostra uma imagem de uma rosa com o anel que Daaé tinha entregue a ele do lado
do túmulo. Então, a cena do livro se inverteu. Pode-se apontar que esse diálogo
abre espaço para que o leitor ou espectador aponte se o fantasma deveria seguir
a vida sem o amor de Daaé ou falecer por falta desse amor.
Com tudo isso, pode-se
ressaltar alguns pontos em comum entre os textos é: a ideia geral da história,
o amor de Raoul e do fantasma por Christine Daaé; ambos se passam em Paris,
expressam os bastidores teatro como um local obscuro; se aderem da vestimenta e
linguagem da época; a nítida presença da ópera e do teatro, valorizando o nome
das obras; a chegada dos novos diretores. E alguns pontos que diferem o livro
do filme são: o leilão, a presença da ópera como forma de diálogo dos
personagens; imagens (algo que no livro o leitor imagina); a desagradável voz
de Carlotta; não é demonstrado a proximidade que Giry e o fantasma tinham no
livro; a personalidade do fantasma é mais agressiva quando ele fica irado; a
falta do personagem que age como o Persa. Ambos os textos são recomendados para
o público que se interesse, ou não, por ópera, e por obras clássicas.
Por: Flaviane Gonçalves Borges
REFERÊNCIAS
LEROUX,
Gaston. O Fantasma da Ópera. São
Paulo: Ática, 1998.
O FANTASMA da ópera.
Direção de Joeal Schumacher, roteiro de Andrew Lloyd Wbbere. 2004. 1 Internet
(143 min): sonoro. Legendado. Port. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=94j3y-9GRvw>.
Acesso em: 08 de ago. de 2012.